sexta-feira, 17 de abril de 2015

Como entender, se não há quem me explique?

Em plena luta dos professores por melhores salários, eu presenciei algo que fez-me pensar o quanto merecem.

Causos de busão, num 136 da Transol:

Um adolescente (devia ter seus 13 anos) estava com uma carteira surrada, verde musgo, com o símbolo do rosto do Chê (Guevara) na frente, no seu pulso uma pulseira com as cores da "bandeira hippie". Fiquei observando-o.
Quando de repente um jovem (que aparentava ter seus 25 anos) chegou perto dele e o diálogo iniciou:

Jovem: Você sabe quem é esse na sua carteira?

Adolescente: É o Chê, né?

Jovem: Isso, exatamente. E ele representa algo pra você?

Adolescente: Sim, sim. Claro.

Jovem: O que exatamente? Você sabe quem ele foi, certo?

Adolescente: Ah, não sei te explicar. Contar a história dele, ta ligado. Mas, sei que ele é do reggae.

Jovem: Não jogador. Tu estás confundindo os personagens. Talvez tu estejas pensando no Bob Marley, não?

Adolescente: A, pode ser. Então, mas e o Chê?

Jovem: Então, Chê foi um jovem revolucionário, com um ideal político de esquerda, que lutou pela causa dos menos favorecidos e tentou levar esse "sonho revolucionário" a toda a América Latina... (etc)

Adolescente (ouvindo-o com atenção): Ah, entendi. Cara, que massa! Na real que curti o Chê. Po, vou dar um perdido lá com meu prof na escola, perguntar se ele me explica melhor e tal.

Pensei!
Por um mundo com mais jovens como aquele, nos busões da cidade.
E fiquei pensando, como os jovens precisam de quem os ensine.
Alguns estão como o eunuco etíope (de Atos capítulo 8) quando falou a Felipe sobre as Escrituras: "Como posso entender se alguém não me explicar?"
E ainda há quem menospreze a profissão dos professores, quando eles pedem por melhores salários ou condições de trabalho...
Professor atura coisa viu! Atura aluno mal educado, pais incoerentes, escola sem estrutura, salários ruins, correções de provas, trabalhos, planejamento de aula, leitura, atualização da sua conjuntura, interação (como lidar) com adolescentes e etc...
Professor não é só aquele cara que vai cumprir horários e passa meia dúzia de páginas do livro didático e vai embora. (Aliás, preferimos nem usar os livros didáticos, que são permeados de manipulação informativa e seletiva). Mas, são educadores, contribuintes na formação de opiniões, de cidadãos, de pensadores, de conscientes... Ah, o que seria de nós se não houvesse quem nos ensine, quem nos explique.
Seja na escola, em casa ou na vida.

Postado também em: Um Sofá Para Cinco.

quarta-feira, 25 de março de 2015

A impressão está nos olhos de quem vê

- Não sei por que, só não gostei dela. Não gostei daquele jeito de falar, daquele sotaque e como ri. Tenho a impressão de que é uma pessoa insuportável.

Pensei eu, certa vez, sobre uma menina linda e sorridente que estudava na mesma sala que eu, num semestre qualquer da faculdade.
Eu não a conhecia, apenas via perambular, falar e gesticular pelos corredores do curso.

Segundo o Dicionário Priberam conhecer é; ter conhecimento de, ter relações com, saber o que é e ter total noção de.

Eu não sabia como ela era de fato, não tinha conhecimento dela e muito menos relações. Como eu podia ter uma impressão? Como eu poderia descrevê-la insuportável?

Bom, quem nunca?!

E o mais irônico da vida? Bastaram algumas semanas para, por algum motivo que não lembro qual, eu ter que falar com ela (acho que acabamos desenvolvendo alguma atividade, em sala, juntas). A coisa toda foi acontecendo naturalmente, conversa aqui, troca deias, alguns sorrisos, adiciona no Face ali, ficam amigas acolá...

- Péra! Cuma?

Sim, isso mesmo, ficamos amigas.

Eu comecei a conhecê-la de fato e descobri que ela era totalmente o contrário do que eu imaginava, e que além de ser uma mulher muito forte, independente e lutadora ainda estava passando por um problemaço. Eu entrei por vontade própria naquele barco e dei meu apoio, meu ombro e minhas palavras. E tudo aconteceu! Acompanhei o processo de baixo, de alto, da Fênix. Hoje ela está feliz, realizada e continua linda, sorridente e guerreira.
Lembro que ouvi dela a seguinte frase: “O meu socorro veio de onde eu menos esperava.” (Óbvio, afinal de contas ela sentia minha antipatia, que tive a inteligência e bom senso de quebrar.).

Foi um belo tapa na cara que recebi da vida!

Impossível não termos impressão de alguém, aquela primeira impressão.
É inevitável o julgamento inicial e em alguns casos a antipatia gratuita.
Eu não vejo problema nisso, desde que seja mantido em segredo na nossa mente e sujeito a alterações, ou seja, criteriosamente questionado por nós mesmos, forçando-nos a conhecer a pessoa para nos convencer do contrário ou de que tínhamos razão. (Pode acontecer!)
Se for para definir (expor) alguém, que o conheçamos (de verdade) primeiro.
Se assim não for, melhor que diga “não sei”. Como diria o filósofo Zeca Pagodim: ♪...nunca vi, nem comi, eu só ouço falar...♪

A questão é: a primeira impressão NÃO É a que fica!
Não deve ser a que fica.

Eu penso que nunca conhecemos por completo alguém numa só vida. Sempre temos algo a descobrir de novo. Claro que com o tempo as novidades vão diminuindo, gravamos hábitos, defeitos e qualidades, sabemos os gostos, os mal gostos, onde mora ou morou, as histórias mais cabulosas, as surpreendentes, as bebedeiras e suas consequências, o wi – fi conecta automaticamente na casa da pessoa, a geladeira nos é familiar e aquele restinho de Pureza é compartilhado sem remorso. Ainda assim sempre estaremos em um processo de conhecimento do amigo, da amiga, dos amores, do amor e da vida.

A grande sacada da impressão é que ela não é culpa de quem passa, mas, de quem a cria.
Agimos por quem realmente somos (ou deveríamos pelo menos), os que chegam depois é que criam, em cima disso, uma impressão.

Queridinha! 
Ou seja, nessa vida não devemos passar impressão de nada, apenas ser nós mesmos. As pessoas que nos observam, nos avaliam e nos julgam que sejam capazes de nos compreender, nos interpretar e nos amar, como somos. E que isso seja always recíproco.

(Se esse meu texto for lido/avaliado por uma amante da gramática, ela irá me crucificar de cabeça para baixo, de tantas vezes que repeti a palavra "impressão"... hehe)

Postado inicialmente em:  Um Sofá Para Cinco